Uma Imersão na Alma: Resenha Crítica de "Dorsal" e a Psicologia do Esporte

24/02/2025

"Dorsal" não é apenas um filme sobre esporte; é um estudo sobre a fragilidade humana e sobre como o autoconhecimento e a saúde emocional são essenciais para o desenvolvimento completo de uma pessoa, tanto na vida pessoal quanto na performance esportiva. A narrativa, apesar de contida, tem a capacidade de provocar uma reflexão sobre a complexa interação entre corpo e mente.

Mesmo na versão curta, o filme mostra uma grande capacidade de imersão, levando o espectador ao turbilhão emocional do protagonista, Alison. A atmosfera densa e a construção detalhada dos personagens são pontos fortes desta produção, que vai além da narrativa esportiva para explorar a psique humana, mostrando o encontro entre alta performance esportiva e saúde mental.

No filme, vemos um atleta aparentemente implacável na sua busca por sucesso. Sua dedicação ao esporte beira a obsessão, demonstrando uma clara negação de outras áreas da sua vida. Essa postura, no entanto, não deriva apenas da ambição, mas de um passado marcado por profundas carências afetivas. A ausência do pai e a provável perda da mãe criaram uma lacuna emocional que Alison, tenta preencher com a conquista esportiva, em busca de uma validação externa que sente faltar internamente. Isso reflete um padrão recorrente na psicologia do esporte: a busca pela excelência como forma de compensar inseguranças e traumas.

A relação complicada com a ex-namorada, Larissa, e a recém adquirida paternidade funcionam como importantes catalisadores desse conflito interno. Alison demonstra uma incapacidade de se entregar emocionalmente, preferindo fugir da responsabilidade e do confronto com seus medos mais profundos — medo do amor, da vulnerabilidade, de repetir os padrões de ausência da sua própria história familiar. Sua performance atlética torna-se, paradoxalmente, uma forma de evasão, adiando o momento de enfrentar suas questões emocionais.

O treinador, inicialmente visto como um personagem áspero e até mesmo abusivo, desempenha um papel crucial na jornada do protagonista. Ele representa a dura realidade que o atleta se recusa a enfrentar. Sua função não é apenas aprimorar o desempenho físico, mas quebrar as defesas emocionais do atleta, forçando-o a confrontar seus medos e a lidar com as consequências de suas escolhas. A "surra de realidade" imposta pelo treinador funciona como um gatilho para a tão necessária autorreflexão.

O ápice do curta-metragem está na vulnerabilidade exposta pelo protagonista, que finalmente admite seu desejo profundo por amor, um desejo frustrado desde a infância. Essa cena revela a fragilidade por trás da fachada de atleta implacável, mostrando a complexa interdependência entre o físico e o psicológico. A capacidade de amar e ser amado, negligenciada em prol da busca pelo sucesso esportivo, surge como um elemento fundamental para a realização pessoal.


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